Na tarde do dia 21/09, ao cair da tarde fui pra minha oficina, preparar um nicho que vi na internet pro quarto do meu garoto, previsto para chegar dia 29. Como não sou um marceneiro profissional, já era noite, por volta das 20h00 e eu ainda estava na metade do trabalho. Minha esposa me chama pra jantar e diz que está sentindo contração desde o começo da manhã. Minha mente entrou em curto, vieram milhões de pensamentos: "Será hoje?", "Talvez seja alarme falso", "Porque ela não me contou antes?" "Devia ta dormindo invés de ter indo trabalhar", "Será que tô pronto?".
Após jantar na casa dos meus sogro, chegamos em casa por volta das 22h30, as contrações já estavam de 10 em 10 minutos. Fiquei nervoso, minha esposa diz pra descansar e quando intensifica-se mais ela me acordaria, ah como eu tentei dormir, ah como eu gostaria de ter dormido. Tentei, mas não rolou, as 00h30 as contrações já estavam de 5 em 5 minutos. E agora? Vamos pra maternidade? Esperamos?
Conversamos e decidimos que iríamos esperar ficarem de 3 em 3 minutos pra irmos pra maternidade. As 1h40, minha esposa diz: "quero minha mãe". Pensei: "quer só agora ou quer que ela acompanhe o parto? Perdi a chance de ver meu filho nascer? Fiz ou disse algo que não devia?". Minha sogra e sogro chegam, meu sogro nitidamente mais nervoso que todos nós juntos, acho que ele não tava acreditando. Por volta de 3h40 da manhã um baita susto, uma série de contrações com intervalos entre 1 e 2 minutos. Pensei, "vai nascer antes de chegar na maternidade, meu pai!" E apesar da dramaticidade da ideia, lavei bem as mãos antes de entrarmos no carro caso realmente ele fosse nascer, pelo menos poderia pega-lo.
As 4h00 chegamos na Maternidade Evangelina Rosa, somos prontamente e muito bem atendidos. A médica examina minha esposa, ouve os batimentos do bebê e declara: "5 cm de dilatação". Meu coração parou, Andressa começa a chorar. Era real, o Jônatas iria nascer! Mas não minto, fiquei na dúvida se a dilatação poderia regredir (essa aula eu faltei). E apesar do bom atendimento, uma péssima notícia: não havia vagas no Centro de Parto Normal e nem em lugar nenhum na maternidade. Admito que fiquei apreensivo, minha esposa teria o filho numa maca no corredor? Será que nosso sonho de ter um parto normal e humanizado iria por água abaixo?
As 5h00, chega a primeira providência que Deus mandou pra nos ajudar, a doula Helflida. Com sensibilidade cuida e dá atenção pra Andressa, mas também ajuda a resolver a questão da maternidade, pois eu tinha ficado meio perdido. Helflida descobre que é possível haver vagas no CPN da Maternidade do Buenos Aires, peço pro meu sogro e minha sogra irem correndo verificar, já que a maternidade não atendia o telefone. Chegando lá, apesar da sonolência do vigia, o retorno é positivo, há vagas. Nossa doula pede pra médica preparar a transferência, a médica super gente boa o faz, mas declara: " transferência solicitada, mas pode demorar um pouco, podem aguarda?" Aguardar? Claro que não! Mas não disse isso pra ele, perguntei se poderíamos ir por nossa conta e risco, pois faltava apenas 5cm de dilatação, que podem demorar horas ou não. A médica, muito receosa, diz que não recomenda, mas se fosse pra gente ir, pra ir logo, pois caso não desse certo, deveríamos voltar correndo, pois ela faria o parto.
E as 6h00, lá vamos nós! No trajeto me lembro: "não lavei a mão e se o menino nascer no carro?" Enfim... chegamos, ufa! Lá estão meus sogros, meu sogro continua nervoso. As contrações diminuíram a frequência. Infelizmente, a transferência ainda não tinha chegado, a médica fica chateada por ter que fazer um novo toque e nova avaliação, já que não tinha transferência. Resultado: ente 5 e 6 cm de dilatação, batimentos normais, pressão normal. Autorizada a entrada no CPN.
AS 6h40 chegamos ao CPN. Somos recebidos de maneira excepcional. Já somos direcionado para a suíte, tudo novinho e muito limpo. Desde que chegou Helflida cuida e dança com Andressa. Infelizmente Helflida precisa ir (nesse mesmo dia ela organizava um curso de doula, essas mulheres que eu nem sabia que existia antes da gravidez, mas que não conseguiríamos sem elas), mas ela já trouxe reforço, a doula Erika. A segunda providência divina, um verdadeiro regalo de Deus.
Andressa permanece firme mesmo em meios as dores. Vai pro chuveiro, usa a bola, a banqueta, cavalinho, agacha, recebe cuidados, muitos cuidados da doula e até dança comigo. As contrações continuam espaçadas. Ah, devo ressaltar o momento da dança, sou péssimo dançarino, mas dançar com minha esposa pra preparar a chegada do meu filho, foi indescritível.
As 9h00 uma nova avaliação, 6cm de dilatação e a pressão alta. Meu alerta ligou, fiquei apreensivo, preocupado, mas tento transmitir o máximo de ânimo e tranquilidade pra minha esposa, afinal, eu sou o porto seguro dela. A enfermeira pede pra ela relaxar o máximo possível, passado alguns minutos, ela aferi novamente a pressão e graças a Deus, tudo normal. Possivelmente a pressão subiu por causa de um contração próxima ou do nervosismo que ela sempre tinha ao aferir.
Permanecemos apreensivos com a pouca evolução da dilatação, principalmente eu, já começava me incomodar ao ver minha esposa sentindo dores durante as contrações. Erika então resolve dá uma mãozinha, coloco as musicas que ela mais gosta, e a 4 mãos (eu também estava ajudando Andressa) massagemos Andressa tentando conecta-la ao bebê e ao trabalho de parto, que momento. E funcionou! Por volta das 9h30, a contrações voltaram a ficar mais próximas e regulares, agora elas começam a ser muito, muito mais frequentes. 3 a cada 10 minutos.
As 10h30, Andressa já estava exausta, já não avançava tanto, mesmo com a ajuda da Erika. Ela, na partolândia, falava em desistir, que não conseguiria. Ela falou isso repetidas vezes, nesse momento, comecei a massagear suas costas e a viver um dos momentos mais incríveis e inesquecíveis de todo o trabalho de parto. Enquanto massageava suas costas, em meio ao nosso cansaço, eu cantava no seu pé do ouvido (Esperança - Os Arrais):
"Pois se tudo mudou e em Cristo eu sou mais do que sou, pra trás eu deixo o homem que fui e as casas que eu construí longe de ti, se tudo mudou eu abro as velas da embarcação, na esperança que pela manhã, avistarei o porto onde te encontrarei. Como um refugiado deixando seu país, fugindo pela noite sem conseguir dormir, confiando na promessa que o pranto toma a noite. Mas logo vem o dia, e gritos de alegria ecoarão!"
As 11h30, 10 cm de dilatação. Mas as contrações diminuíram novamente. O processo está lento, a bolsa ainda nao rompeu. Andressa está exausta. 12h40 as enfermeira sugerem romper a bolsa para tentar acelerar as contrações novamente, eu e Andressa conversamos e concordamos.
Bolsa rompida, as contraações voltaram com tudo, agora precisávamos encontrar a melhor posição, e por incrível que pareça, a melhor foi deita na cama de barriga pra cima. E sim, os gritos começaram ecoar, mas pra mim não eram gritos de dor, mas "gritos de alegria que ecoaram", assim como diz Os Arrais.
Agora é só questão de tempo, Erika sugere que eu coloque música novamente. Agora eu já começo ver meu filho, ele ta saindo. Andressa usa forças provindas de Deus, como ela mesmo disse.
Ele está saindo, as lágrimas começam a cair (enquanto escrevo, estou olhando pro meu filho), a música que toca ao fundo diz "Um anjo do céu, te trouxe pra mim" e trouxe mesmo, as 13h45 do dia 22/09/2017 nasceu o Jônatas Luis com 3.560kg e 49cm, lindo e forte.
Apesar do sangue, do medo de acontecer algo com minha esposa ou com meu filho, valeu a pena viver TODOS OS MOMENTOS. Fui transformado, mudado, agora vejo o mundo diferente e amo o Senhor, minha esposa e filho como nunca antes. Não sei como seria se eu não tivesse participado desses momentos.
Agradeço a nossa familia, em especial nossos pais e irmãos, que foram nosso pilar desde o começo da gravidez. Aos amigos que estavam na torcida, que nos visitaram, que viajaram, que oraram pela gente. A toda equipe da Maternidade do Buenos Aires, desde as enfermeiras do CPN que foram sensacionais até a equipe médica, de limpeza e enfermagem. Não posso esquecer da Helflida e Erika, não sei como seria esse momento sem vocês, Deus é glorificado através da excelência e dedicação do trabalho de vocês.
Andressa, muito obrigado por ter permitido que eu escolhesse você como esposa, você que me escolheu na realidade. Nossa família é a maior dadiva que recebi e receberei na vida. E agradeço nosso Deus, por proporcionar o dom da vida.